Quando
do nascimento do Romeu, inicialmente, pareceu-nos que
seria mais viável buscar informações
e apoio nas instituições especializadas
de Belém.
Após
estas buscas tivemos uma experiência estarrecedora,
não encontramos apoio emocional e a informação
transmitida foi simplesmente: “seu filho é
mongolóide, será uma criança treinável";
diferentemente dos dias atuais, onde as instituições
oferecem programas de estimulação precoce
e de apoio à família, e os pais tem a sua
disposição literatura variada, guias informativo
de fácil compreensão, além das informações
sobre a Síndrome na Internet.
Ao visitarmos
uma clínica de reabilitação em Belém,
constatamos que a mesma adotava o método Glenn
Doman, o qual é baseado na teoria de que a função
do cérebro é relacionar o indivíduo
com o meio e que o grau de eficiência com que o
cérebro relaciona um indivíduo com o ambiente,
representa o grau de organização neurológica
desse indivíduo.
Devido a minha
formação médica e de professor nas
áreas de histologia, embriologia e biologia celular,
acreditava, na maturação pós-natal
do sistema nervoso, como também, no fato dos efeitos
de um meio rico em estímulos promover uma melhor
organização do córtex cerebral, promovendo
uma riqueza de conexões neuronais, durante os primeiros
anos de vida, o que seria fundamental para o desenvolvimento
das pessoas como Síndrome de Down.
Estes fatos
motivaram a optarmos pelo referido método, devido
sua proposta de estimular o desenvolvimento do potencial
do ser humano, através de estimulação
sensorial.
Freqüentamos
durante três meses a clinica em Belém, e
então, resolvemos ir ao Rio de Janeiro, onde o
Romeu submeteu-se a uma avaliação no Centro
de Reabilitação Nossa Senhora da Glória.
Durante três anos o Romeu participou das programações
desse Centro.
Na
primeira consulta, após realizarmos curso e treinamento
para desenvolvemos as técnicas prescritas para
cada programa, regressamos à Belém e iniciamos
as atividades em nossa própria residência,
com objetivo de promover um ambiente tranqüilo onde
poderíamos desenvolver um melhor relacionamento
com nosso filho, criando um ambiente onde a paz, a alegria
e o amor suplantassem nossa ansiedade, nossos medos e
acima de tudo fortalecesse um sentimento de participação
em cada membro de nossas famílias.
Outra decisão
que tomamos foi que nos realizaríamos, sempre juntos,
todas as atividades de estimulação do Romeu.
Iniciamos a
programação, sempre procurando tornar as
atividades em um jogo divertido, respeitando o estado
emocional do Romeu, sempre preocupados em uma regra essencial:
o de não entediá-lo.
Ao notarmos
que ele não interagia, não estava disposto
ou irritado sempre procurávamos desenvolver novas
atividades diferentes como: íamos a uma praça
ou ao zoológico onde utilizávamos o ambiente
e os animais para estimulá-lo. Sempre respeitávamos
suas horas de sono e seus momentos de brincadeiras.
Quando iniciamos
a programação de leitura , estimulávamos
também a visão, audição e
a linguagem.
Na primeira
etapa, a programação tinha como objetivo
a discriminação visual, na qual utilizávamos
cartazes com palavras, como por exemplo: relacionadas
a família, alimentação, animais e
etc...
Posteriormente
as palavras eram apresentadas em categorias, como frutas,meios
de transportes entre outras. A seguir apresentávamos
as palavras combinadas, onde cada palavra escolhida tinha
três combinações como, por exemplo:
sapotilha gostosa, sapotilha doce e sapotilha pequena
.
Posteriormente
iniciamos a etapa, na qual apresentávamos frases
estruturadas e textos (cartilhas). As frases eram apresentadas
da seguinte maneira: escolhíamos uma palavra, já
apresentada anteriormente, e com esta palavra elaborávamos
três fases, de modo que a palavra escolhida nunca
era apresentada na mesma posição.Após
serem apresentadas, as palavras das frases eram recortadas
e misturadas e o Romeu era estimulado a reconstruir as
frases.
Ao término
destas etapas constatamos que nosso filho, aos 3 anos
de idade, já estava lendo.Todas as informações
diárias, como por exemplo: a hora que ele tinha
acordado, o que iria comer, qual era o dia da semana,
estórias infantis, músicas, poesias ect...,
eram fornecidas ao Romeu através da leitura visualizada.
Dentro de nossa casa tudo era identificado com cartazes,
como: os moveis, objetos, portas, janelas e os compartimentos
da casa.
O uso de instrumentos rítmicos, músicas, estórias
infantis de conteúdo voltado para a sua realidade
e entendimento, assim como leitura de textos, poesias,
jornais entre outros, foram fundamentais para o desenvolvimento
da visão, audição, linguagem e seu
interesse pela leitura.
Através
de caminhadas pela cidade, participação
em festas de aniversários, restaurantes, praças
e parque de diversão, entre muitas outras atividades,
procuramos proporcionar numerosas vivências de aprendizagem,
como também favorecer sua participação
social na comunidade.
Durante todo
o desenvolvimento das programações, sempre
adotamos como regra: beijos, elogios e muita alegria quando
o Romeu aprendia ou descobria um fato novo. E agimos com
rigor ao repreendê-lo quando necessário,
pois achávamos que a disciplina, a obediência
e seu comportamento seriam fundamentais para sua inclusão
social.
Procurávamos
sempre valorizar o máximo possível as suas
descobertas. O Romeu sempre foi encorajado a explorar
seu mundo com liberdade, tendo oportunidade de aprender
as coisas do dia-a-dia, como vestir-se, ir ao banheiro,
ligar a televisão e usar o telefone.
Desde que começou
a falar, sempre estimulávamos a participar das
conversas da família e nas reuniões sociais
dando sua opinião sobre os mais diversos assuntos.
Hoje temos
certeza que acima de qualquer método o sucesso
alcançado pelo Romeu é o resultado do nosso
amor, nossa dedicação, a nossa participação
ativa em todas as atividades, a grande integração
familiar,a experiência da Sandra, como educadora,
e também a participação de nossas
família em todas as fases das atividades desenvolvidas.
Quando o Romeu
tinha quatro anos de idade, já alfabetizado, procuramos
uma escola. A primeira, dirigido por uma irmandade religiosa,
que ao perceber que nosso filho era especial, informaram-nos
que não havia vaga. Porém, constatamos que
as mães, que chegaram depois de nós, conseguiram
matricular seus filhos. Após a primeira decepção,
conseguimos matricular em uma das melhores escola de Belém,
no pré- escolar.
No
ano seguinte, mesmo o Romeu já estando alfabetizado,
optamos por matriculá-lo no jardim do Núcleo
Pedagógico Integrado da Universidade Federal do
Pará, (escola destinada aos dependentes de professores
e funcionários), onde cursou até a 1a. Série.
Depois optamos por uma escola menor e com um número
menor de alunos, para que houvesse um melhor aproveitamento
tanto na parte social como na aprendizagem.
Já aos
cinco anos Romeu começou a apresentar interesse
pela poesia e aos onze através de aulas de informática
aprendeu a utilizar o computador. Com dezesseis anos concluiu
o ensino fundamental.
Desde a primeira
escola do Romeu, nós sempre procuramos através
de reuniões com a equipe técnica e com os
professores, sensibilizá-los para sua inclusão,
assim como estávamos sempre disponíveis
a realizar palestras de esclarecimento e orientações
para os professores, técnicos como também
para os demais pais.
Sempre deixamos
claro para as escolas que o nosso maior objetivo, além
de sua aprendizagem, seria darmos ao Romeu uma oportunidade
para conviver com os alunos de sua faixa etária
e logicamente ter uma melhor integração
social.
Aos dezessete anos nosso filho iniciou a 1a. Série do ensino
médio (2o. Grau) em um colégio da rede regular.
Ao observamos
que Romeu começou a apresentar dificuldades nas
disciplinas, como matemática, física e química
e que como nos colégios o principal objetivo é
a preparação para o vestibular, resolvemos
conversar com nosso filho, onde ele solicitou que queria
substituir o colégio por atividades artísticas
como: aprender a tocar teclado, participar de aulas de
arte plástica (pintura) e teatro.
A nossa convicção
na sua potencialidade artística levou-nos a aceitar
a sua sugestão.
Hoje o Romeu está feliz, com sua
auto-estima valorizada e demonstra uma grande autoconfiança. |